Por Investing.com (Barani Krishnan/Investing.com)
Como o flautista de Hamelin, o presidente dos EUA, Donald Trump, acabou com o excesso de oferta no mercado de petróleo, ao impor sanções ao Irã e à Venezuela.
Como “desestabilizador-mor” dos preços do petróleo, Trump é uma figura temida tanto pelos touros do mercado quanto pelos produtores.
Nem os traders nem os pesos pesados da Opep conseguem passar uma semana sequer sem pensar em qual será o próximo tuíte do presidente que irá torpedear o rali do petróleo.
Até onde Trump precisa que os preços do petróleo caiam?
Não é segredo para ninguém que Trump precisa que os preços do petróleo – ou, mais especificamente, os preços da gasolina nas bombas do país – estejam nos menores níveis possíveis nos próximos 18 meses, quando embarcar em sua campanha de reeleição em novembro de 2020.
A questão, obviamente, é: quão baixo é “baixo o bastante” para o presidente?
Se analisarmos os tuítes passados de Trump comemorando cada queda nos preços das bombas, veremos que simplesmente não há limites para o que o presidente busca.
Sem dúvida, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, principalmente a Arábia Saudita, tem ideias diferentes de onde o mercado deveria estar.
O impacto dos tuítes de Trump no petróleo tem sido objeto de intenso debate. O renomado analista de energia Anas F. Alhajji chegou a escrever em uma publicação de março no seu blog: “Surpresa: Tuítes de Trump sobre o Petróleo Não Importam! – Uma conclusão feita a partir da avaliação de dez tuítes desse tipo e seus efeitos, antes e depois.”
Independentemente disso, Alhajji afirma: “um fato se destaca: o presidente dos Estados Unidos está usando seu poder para manipular os preços do petróleo”.
Para os hedge funds sensíveis a movimentações e outros traders influenciados por manchetes em Wall Street, geralmente isso é tudo o que eles precisam para começar a vender.
De acordo com Phil Flynn, analista sênior de energia do Price Futures Group, de Chicago:
“Não se pode superar o impacto de um tuíte presidencial. Esqueça os mísseis voando na Coreia do Norte ou lançados por grupos terroristas contra Israel. Tudo gira em torno de um tuíte. É a arte da negociação ou talvez a arte do tuíte. Trump tuitou que os preços do petróleo estavam muito altos, e eles caíram novamente.”
Tuítes do presidente norte-americano desviam o foco do mercado em relação aos reais fundamentos
Para quem acredita na alta do petróleo, como Flynn, a típica queda de preço após um tuíte de Trump esconde sérios distúrbios na oferta, bem como tensões geopolíticas que apontam para a subida do petróleo.
Por isso, a montanha-russa desta semana por causa da China, para ele, foi apenas “mais semana maluca no petróleo, que parece ficar cada vez mais maluco a cada dia”.
Flynn se queixa da pouca atenção dada a fatores como a retirada de 4 milhões de barris nos estoques petrolíferos dos EUA na semana passada, os projéteis lançados pela Coreia do Norte, a batalha que está sendo travada na Líbia e as ameaças feita pelo Irã de bloquear duas das hidrovias mais importantes do mundo: o Estreito de Hormuz e o Estreito de Bab el-Mandeb.
Flynn complementou:
“O Irã deu um ultimato para que a Europa tire os EUA das suas costas ou o país sairá do antigo acordo nuclear e começará a enriquecer urânio”.
“Ao longo da noite, a UE insistiu para que o Irã respeitasse o acordo nuclear e afirma que pretende continuar comercializando com a República Islâmica apesar das sanções norte-americanas”.
Embora não haja qualquer evidência de que os tuítes adversos de Trump sobre a China nesta semana pretendessem, em parte, interromper o rali no petróleo, o fato de ele não esboçar qualquer arrependimento pelo impacto causado confirma seu viés.
Mais batalhas de preço entre Trump e a Opep
Para sermos justos, o governo Trump admitiu, na quinta-feira, que o presidente chinês Xi Jinping lhe havia escrito uma “bela carta” que o fez interromper seus planos de endurecer as tarifas sobre o país, o que teve efeito tranquilizador no mercado petrolífero e acionário, ajudando o petróleo a recuperar quase toda a queda de 2% ocorrida mais cedo, quando o presidente americano afirmou que a China havia “quebrado o acordo” nas tratativas comerciais e que eles “iriam pagar”.
Nos próximos meses pode haver um acirramento da batalha de preços entre Trump e os sauditas, que elevaram o preço de venda oficial do petróleo Arab Heavy aos clientes asiáticos na semana passada, na tentativa de manter os preços físicos no mesmo patamar dos preços futuros.
Trump demonstra certa indisposição com os sauditas por eles não terem aumentando a produção logo após ter decidido não conceder mais isenções aos compradores do petróleo iraniano neste mês.
Sua busca por preços mais baixos na gasolina continua fazendo com que ele seja uma perigosa ameaça para os touros do petróleo e a Opep.