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A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirma que está tentando não confundir política com petróleo. O secretário-geral do cartel, Mohammad Barkindo, deveria ser aplaudido por sua coragem ao dizer isso em uma reunião no Irã – que, atualmente, é a “cova dos leões” dos produtores de petróleo.
Porque nada poderia estar mais longe da verdade.
Estabelecida em 1960 para coordenar as políticas petrolíferas dos seus estados-membros e auxiliá-los em aspectos técnicos e econômicos, a Opep se desviou bastante de alguns dos seus objetivos mais nobres definidos em sua fundação.
Em sua essência, a organização ainda é um grupo cujo objetivo é administrar o abastecimento e os preços do petróleo, a fim de evitar flutuações que possam afetar as economias – primeiramente – dos países produtores da commodity e – secundariamente – dos seus clientes. Sua sede ainda está localizada em Viena, para onde foi deslocada depois de passar seus cinco primeiros anos em Genebra.
Só um membro dita todas as regras na Opep: a Arábia Saudita
Mesmo assim, é inegável que, dos seus cinco membros fundadores e nove regulares – considerando a saída ressentida do Catar no ano passado — apenas um membro virtualmente dita todas as regras na organização: a Arábia Saudita.
O outro único membro dotado de certa musculatura dentro da Opep é o aliado mais próximo dos sauditas: os Emirados Árabes Unidos.
Não é por acaso que a maioria das decisões do grupo tem viés saudita, mesmo com a Opep tentando de todas as forças se proteger como uma organização baseada no consenso, cujos membros geralmente têm poucas escolhas a não obedecer as ordens, pelo bem de uma commodity tão importante para todos eles. O petróleo, na condição de fluido que literalmente move o mundo, e Riad, como seu maior exportador, reforçaram a posição de liderança dos sauditas tanto na commodity quanto no cartel.
É por isso que, depois de seis décadas e de dramas épicos, como o embargo árabe ao petróleo na década de 1970 e os seguidos crashes nos preços do petróleo nos últimos cinco anos, a Opep ainda está de pé. Entre os pactos da commodity, trata-se de um “gato proverbial de várias vidas” que continua sobrevivendo apesar dos prognósticos de sua morte, mesmo após o desfalecimento de todas as outras formas de cartéis.
Inimigos dos sauditas, como Catar e Irã, ficaram à margem na Opep
Por outro lado, à medida que o poder mundial da Arábia Saudita crescia, seus arquirrivais se viram cada vez mais isolados nas tratativas de alto nível dentro da Opep, o que resultou na saída do Catar e na agora problemática posição do Irã, que enfrenta um embargo dos EUA sobre seu petróleo, enquanto os sauditas observam tudo impassíveis – ou melhor, cheios de júbilo, como dizem alguns. Os sauditas também estão pouco preocupados com o destino de outro grande membro da Opep: a Venezuela, que da mesma forma foi alvo das sanções norte-americanas.
De volta ao Secretário-Geral, Barkindo, ele tem pouca autonomia na Opep, o que torna seu lembrete aos membros do grupo ainda mais divertido, durante sua visita a Teerã esta semana. Barkindo disse que os membros do cartel deveriam deixar seus “passaportes [em] casa ao vir para esta organização”.
Putin pode ter mais influência na Opep do que o Secretário-Geral, Barkindo
Em todo caso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que não participou de nenhuma reunião do cartel petrolífero, provavelmente tem mais influência na organização do que Barkindo, ex-diretor da petrolífera estatal nigeriana.
Como homem que praticamente salvou a Opep de um colapso no ano passado ao concordar em renovar o pacto de corte de produção feito em 2016, Putin se tornou um padrinho de todas as horas para as ambições do jovem príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Os dois controlam a Opep através dos seus representantes, os ministros de energia Alexander Novak e Khalid al-Falih, que, juntos, estão lutando para manter vivo o rali de 40% deste ano no petróleo graças ao seu controle de 25% da produção mundial.
Do outro lado encontra-se o presidente dos EUA, Donald Trump, que exerce sua influência por meio da produção de 12,3 milhões de barris por dia dos EUA e, por isso, é um concorrente de peso capaz de sacudir os preços mundiais do petróleo. Na rodada inicial, Trump impediu a Rússia de quase se tornar um membro oficial da Opep.
Por enquanto, os sauditas parecem estar em melhores condições entre os três, já que têm os russos ao seu lado e Trump atuando, ainda que inadvertidamente, para manter o petróleo em torno de US$ 70 por barril através dos seus embargos, com seu inimigo favorito, o Irã, fora de jogo. Para analistas que cobrem a Opep, a relação entre os sauditas e os iranianos deve ser um enigma, em razão da sua fachada como produtores irmanados pelo bem comum de uma commodity vital, ao mesmo tempo em que se mostram prontos a atuar um contra o outro na primeira oportunidade. Dividindo ainda mais uma Opep já fraturada, Putin apoia o presidente em exercício da Venezuela, Nicolás Maduro, que Trump tenta derrubar através do seu apoio ao oposicionista Juan Guaidó.
Irã tentará dificultar ao máximo a situação dos sauditas
No início desta semana, o ministro do petróleo do Irã, Bijan Zangeneh, afirmou:
“Usar o petróleo como uma arma contra dois membros fundadores da Opep (Irã e Venezuela) transformará a unidade desta organização em divisão, desencadeando a dissolução e o colapso da Opep.”
“Eles têm que aceitar a responsabilidade por tudo isso.”
O ministro não especificou a quem direcionava suas palavras, embora pareça estar culpando o triunvirato entre EUA, Arábia Saudita e Rússia como um todo.
No entanto, o Irã tem dito que não irá seguir o exemplo do Catar e deixar a Opep.
John Kilduff, sócio fundador do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, também achou que fazia sentido para Teerã permanecer no grupo.
Kilduff disse ainda:
“Acredito que eles querem manter sua presença na mesa, fazer ouvir sua voz e dificultar ao máximo a situação para a Arábia Saudita.”
O que nos leva ao argumento sustentado por Todd Horwitz, fundador e estrategista-chefe da Bubba Trading, que descreveu a Opep como “nada mais que uma falsa organização”.
Horwitz disse que, como os EUA estão aumentando sua produção petrolífera, a Opep não “tinha nada mais a fazer”, pois “não conseguia mais ameaçar os americanos com a retenção do [seu] petróleo”.