Por Barani Krishnan
Cortes, cortes e mais cortes – isso é o que o mercado de petróleo provavelmente vai ouvir até a reunião da Opep, em abril. Os dados mostram que o mundo ainda tem mais petróleo do que precisa, apesar da retirada de pelo menos 1,2 milhão de barris por dia (bpd) do mercado e do desejo da Arábia Saudita de fazer com que o barril volte a custar US$ 80.
O ouro, de outro lado, parece estar prestes a se manter de forma mais estável no patamar de US$ 1.300 por onça, enquanto as preocupações econômicas mundiais se alternam com a crise do Brexit, fazendo com que o metal amarelo se torne um porto seguro.
Cortes de petróleo da Opep devem continuar até junho
Antes da reunião oficial de 17 de abril, em Viena, os ministros de energia dos 15 países membros da Opep e da Opep+, aliança de 10 países liderada pela Rússia, se encontraram em Baku, Azerbaijão, para dizer ao mercado três coisas no fim de semana passado:
- 1. Ainda há petróleo demais no mundo e provavelmente será preciso continuar realizando cortes de produção até junho;
- 2. As incertezas em relação ao fornecimento do Irã e da Venezuela estão complicando o reequilíbrio do mercado;
- 3. Pode ser necessário realizar cortes acima de 1,2 milhão de bpd, e os sauditas não serão os únicos a suportar esse fardo.
A Opep também está pensando em descartar uma reunião de análise de produção agendada para abril e ir direto para sua conferência de política mais importante em junho, já que os cortes de produção não serão concluídos até o mês que vem. Isso significa que o mercado pode continuar ouvindo o que o ANZ Bank chamou de “ruídos” da Opep sobre cortes até junho.
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Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética, em Nova York, declarou o seguinte, em uma nota emitida no fim de semana:
“A narrativa dos cortes de oferta foi mais eloquente do que um possível cenário de desaceleração da demanda global nas últimas semanas, mantendo de fora aqueles que apostavam na queda do petróleo.”
No contexto do mercado, isso significa que o mantra da Opep pode evitar que os preços do petróleo recuem significativamente até atingir o alvo de curto prazo de US$ 60 para o WTI e US$ 70 para o Brent, apesar de o cartel admitir que, quando o assunto é equilibrar o mercado, é muito mais fácil falar do que fazer.
A posição da Opep ganha ainda mais relevo se levarmos em conta a possibilidade de que a produção petrolífera norte-americana pode estar caindo, de acordo com os dados divulgados na semana passada.
Oferta demais ou demanda de menos?
Mas o excesso de oferta ou a falta de demanda de petróleo, dependendo da maneira como se observa o problema, não é apenas uma conjetura da Opep ou de autoridades como a Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) e da Agência Internacional de Energia (AIE), sediada em Paris.
A Orbital Insight, empresa de Palo Alto, Califórnia, que monitora a oferta mundial de petróleo com extraordinária precisão através de satélites que estudam a cobertura de 25.000 tanques de petróleo, notou um acúmulo de 84,3 milhões de bpd no mercado no ano passado, apesar dos cortes da Opep. Cerca de 66 milhões de bpd, ou 78%, desse estoque encontrava-se na China, que está enfrentando seu pior cenário econômico em três décadas.
Embora o acúmulo de estoque nos Estados Unidos não tenha sido uma surpresa, uma vez que o petróleo de xisto (shale) foi o responsável por virar o mercado pelo avesso, houve aumento de oferta nos países da Opep, que propagavam cortes de produção.
Além disso, os EUA detêm o controle da produção de dois importantes membros da Opep – Irã e Venezuela – por meio de sanções, permitindo que o governo Trump, que deseja reduzir os preços do petróleo, tenha a vantagem de surpreender o cartel a qualquer momento com decisões inesperadas.
De acordo com dados da Orbital, o único grupo de países a apresentar queda nos estoques de petróleo foi a OCDE, que reúne os países mais ricos do mundo. Mas, considerando que mais de dois terços desse grupo são formados por economias europeias e que houve uma desaceleração nessa região no ano passado, seria lógico concluir que a queda se deveu ao declínio nas importações de petróleo, e não a um consumo maior do que a oferta.
Economia dos EUA não ajuda muito
Tudo isso levanta a seguinte questão: será que o rali de quase 30% do petróleo neste ano é sustentável do ponto de vista dos fundamentos? Considerando os sinais de alerta emitidos pela economia norte-americana, na esteira da Europa e da China, a resposta é: “não muito”.
A medição do PIB dos EUA no primeiro trimestre parece estar bem fraca. O Federal Reserve de Atlanta prevê um crescimento anual real de apenas 0,4%.
Analistas do Morgan Stanley disseram, na semana passada, que os investidores deveriam se preparar para uma recessão nos resultados dos EUA, depois que o crescimento do mercado de trabalho foi praticamente nulo em fevereiro.
As taxas de juros hipotecárias nos EUA também atingiram os menores níveis em um ano, sem qualquer perspectiva de que as nuvens que encobrem o setor imobiliário do país percam força.
A única coisa que os EUA estão tentando garantir é a promessa do Federal Reserve de que será paciente com a elevação das taxas de juros. Isso está permitindo que o mercado acionário em Wall Street – que geralmente direciona o petróleo – tenha a chance de disparar, apesar dos obstáculos econômicos.
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Ouro agora pode se fortalecer no patamar de US$ 1.300
No mercado de ouro, os contratos futuros negociados nos EUA e o lingote comercializado globalmente retornaram para o patamar-chave de US$ 1.300 na sexta-feira, em vista das declarações do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, sugerindo que poderia haver mais pressão sobre a economia do país diante dos dados fracos de emprego e atividade industrial nos EUA.
Walter Pehowich, vice-presidente executivo da Dillon Gage Metals, em Addison, Texas, declarou que a queda no índice Empire State de atividade industrial em Nova York abaixo de 10 pelo terceiro mês consecutivo em março dá um grande impulso ao ouro.
Os investidores recorreram à segurança oferecida pelo metal depois que o número de cidadãos norte-americanos que deram entrada no seguro-desemprego cresceu mais do que o esperado na semana passada, em meio ao declínio maior do que o previsto nas vendas de casas novas em janeiro.
Ainda segundo Pehowich:
“Consideramos que o preço do ouro voltará a superar US$ 1.300 por causa de um resultado mais fraco do que o esperado na pesquisa de atividade industrial no Estado de Nova York.”
“O metal amarelo está oscilando no nível de resistência anterior de US$ 1.304. Esse parece ser um patamar importante, pois o mercado acelera ou cai a partir desse ponto, dependendo da tendência apresentada nesse nível.”