Terna mira aquisições e leilões de transmissão, apesar de críticas ao modelo brasileiro

Técnicos inspecionam linhas de transmissão de energia da Terna Brasil (Foto: Divulgação)
Linha de transmissão de energia da Terna Brasil (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA – Focada em operação de linhas de transmissão e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, a Terna quer aproveitar as promessas de privatizações envolvendo o sistema Eletrobras para aquisições e instalação de novos projetos no país. Mas a empresa italiana, que voltou a investir no Brasil após um hiato de oito anos, faz críticas ao modelo brasileiro de leilões de transmissão, visto por seus executivos como pouco atraente para operadores focados em longo prazo.

Com investimento de R$ 580 milhões, a Terna, da Itália, está concluindo as obras de duas linhas de transmissão,  previstas para este primeiro semestre. São projetos no Rio Grande do Sul e Mato Grosso que marcam a reentrada da companhia no Brasil – já teve operações que duraram até 2009 –, mas agora com o foco em concessões de longa duração que permitam a permanência no país, visto por seus executivos como a bola da vez do setor na América do Sul.

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Críticas ao modelo brasileiro
Para o presidente da Terna no Brasil, Claudio Marchiori, o deságio médio de cerca 55% do último leilão de transmissão, realizado no ano passado, foi “absurdo” e favoreceu a entrada no mercado de empresa pouco interessadas na operação de longo prazo. A Terna participou dos leilões de 2018, mas não levou nenhuma das linhas ofertadas.

Para ele, o modelo brasileiro de leilões de transmissão pode ser “defeituoso” por não fazer a seleção das ofertas com foco em empresas com projetos de longo prazo.

”A Terna é operadora de sistema e quem está ganhando agora são construtores de linha, não operadores de sistema, e eles têm uma visão de curto prazo”, afirmou a jornalistas durante evento em Brasília, sobre a conclusão da linha Santa Maria 3-Santo Ângelo 2, no Rio Grande do Sul. Esse projeto foi comprado da Planova, em 2017.

“Quem ganha, muitas vezes, é interessado só em construir e depois a operação pode ficar carente. Quem gerenciar (o projeto) tem que lidar com a qualidade”, afirmou o executivo.

Ainda assim, Marchiori reforçou a intenção da companhia de participar do próximo leilão de transmissão, que deve ocorrer em dezembro. “Somos ativos, mas com respeito à indicação macroeconômica que a Terna tem que ter”, disse.

Giovanni Cerchiarini (Terna Plus), Luigi Ferraris (Terna) e Claudio Marchiori (Terna Brasil) – Foto: Hugo Barreto/Terna

Os executivos da companhia negociam, e podem anunciar em breve, a aquisição de dois projetos de linha de transmissão em Minas Gerais. “São duas concessões que estamos negociando e veremos se conseguimos fechar no começo de março”, disse Claudio Marchiori, que adiantou outros detalhes.

O presidente global da companhia, Luigi Ferraris afirmou que a promessa de privatização de parte da Eletrobras é uma oportunidade de crescimento. No projeto no Rio Grande do Sul, a Terna opera com energia fornecida pela CEEE, a estatal gaúcha que também pode ser privatizada pelo governo de Eduardo Leite (PSDB).

“O grupo Eletrobras é muito parecido com a Terna na Itália, que até 15 anos atrás era monopolista. São boas empresas mas precisam ganhar eficiência”, completa Marchiori, presidente da Terna no Brasil, falando a favor da venda de ativos.

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Tecnologia de armazenamento no leilão de renováveis
A empresa também trabalha na troca de experiência com o ONS para fazer sugestões de melhorias. Uma das opções é apresentar ao operador o sistema de baterias que a Terna opera na Itália.

Entre os dias 7 e 8 de março, representantes do ONS vão à uma missão na Itália, na qual devem conhecer como a tecnologia é utilizada. A Terna estuda trazer para o Brasil a depender da definição do próximo leilão de geração focado em renováveis.

“O construtor de linha não cuida disso, mas quem é despachante [de energia] sabe que tem que ter pronta uma reserva de energia, que quando acaba a energia solar você precisa ter uma [oferta] de energia pra ocupar (…) uma das opções é o armazenamento eletroquímico, que armazena energia quando tem, por exemplo, sol e vento além do necessário, e joga a energia na rede quando não tem nem sol, nem vento”, diz Marchiori.

“Este [a atuação com fontes renováveis] é um problema novo no Brasil e estamos em contato com o ONS para trocar esse tipo de experiência”, acrescenta o executivo.

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Investimento de R$ 580 milhões no Brasil em três anos
A linha Santa Maria 3-Santo Ângelo 2, no Rio Grande do Sul, tem 158 km de extensão e foi projetada para ligar projetos de energia renovável, principalmente eólicos, ao sistema interligado nacional (SIN). A linha é operada pela subsidiária Santa Maria Transmissora de Energia.

Até junho, a companhia pretende entregar sua segunda linha de transmissão no país, a Jauru-Cuiabá, com 355 km de extensão. A Terna adquiriu os dois projetos em fevereiro de 2017, em um contrato da sua subsidiária para a América do Sul, a Terna Plus, com a Planova, empresa brasileira que atua em obras de infraestrutura. Na época a empresa anunciou um desembolso de US$ 180 milhões para o contrato. A Terna fará a operação das linhas pelos 30 anos de duração da concessão. Hoje, anunciou que o investimento total nos projetos alcança os R$ 580 milhões.

Controlada pelo governo italiano, a terna tem cerca de 73 mil km de linhas de transmissão instaladas no mundo, principalmente na Itália, onde possui aproximadamente 98% da rede de alta voltagem.

Na América do Sul a companhia tem ainda dois projetos em fase de implementação no Uruguai, para a construção de mais de 200 km de linhas de transmissão entre Melo e Tacuarembó; e no Peru, onde assinou, em 2017, um contrato de concessão para a construção e operação de 130 km de linhas de transmissão.

A Terna foi criada em 1999 como parte do grupo italiano Enel, a antiga agência nacional de energia elétrica, privatizada em 1992. Teve seu IPO na bolsa italiana em 2004 e hoje tem capital aberto, mas é controlada pelo governo italiano, que detém 30% das ações.