ABU DHABI – O verão foi embora, mas Abu Dhabi registrou temperatura recorde para o setor de petróleo ao longo desta semana. A capital dos Emirados Árabes sediou no fim de semana a reunião do Comitê Ministerial de Monitoramento da Opep+ (que engloba produtores aliados) e, em seguida, a conferência internacional de petróleo de Abu Dhabi (Adipec). Em discurso alinhado, autoridades de países líderes da organização deram seu recado: a Opep quer manter o equilíbrio do mercado e vai sim cortar produção se necessário.
A pressão no bolso – com a queda de mais de 20% no preço do barril do petróleo desde outubro – pesou mais que a do presidente americano, Donald Trump. Na segunda feira ele voltou à carga em seu Twitter: “Espero que a Arábia Saudita e a Opep não cortem a produção de petróleo. Os preços do petróleo devem ser muito menores com base na oferta!”.
Na véspera do pito de Trump, o Comitê da Opep já havia alertado em comunicado que suas análises apontavam para um crescimento de oferta superior às exigências globais em 2019, levando em conta as incertezas atuais. E que o enfraquecimento das perspectivas de crescimento econômico global poderia ter repercussões para a demanda de petróleo no ano que vem, agravando ainda mais a diferença entre oferta e demanda.
“Acho que se as coisas permanecerem como estão, e provavelmente não vão, porque é um mercado muito dinâmico, as análises técnicas nos dizem que vamos precisar de uma redução de oferta em relação aos níveis de outubro próxima a um milhão de barris (por dia)”, indicou o ministro de Energia Saudita Khalid Al Falih na abertura da conferência.
Segundo ele, o consenso é que é preciso equilibrar oferta e demanda. O ministro dos Emirados Árabes para o setor, Suhail Mohamed Al Mazrouei, disse que o quadro atual demandará uma revisão de estratégia para 2019.
Desde o início do ano Trump vem pressionando os países da Opep a turbinarem sua produção para segurar os preços e agora compensar o efeito das sanções aplicadas pelos Estados Unidos às exportações de petróleo do Irã. No entanto, o presidente americano permitiu que oito países continuem comprando óleo iraniano por mais tempo, o que tende a diluir o impacto do embargo no tempo. Foi aí que a ficha da Opep caiu de vez.
Os números do relatório mensal da organização divulgados na terça-feira reforçam os argumentos para um recuo de produção. O documento projeta um crescimento menor da demanda em 2019: 1,29 milhão de barris por dia, 70 mil barris por dia a menos que a previsão do relatório anterior.
Na outra ponta, a Opep aponta que as previsões para o crescimento da oferta por parte de países fora da organização indicam maiores volumes, superando a expansão na demanda global por petróleo – afetada pela perspectiva de menor crescimento da economia global– levando ao à expansão do excedente de oferta da commodity.
O suspense quanto aos possíveis cortes vai durar ao menos até 5 de dezembro, data do próximo encontro da Opep+, em Viena. Para decidir falta agora combinar com os russos, que afirmam ainda ser cedo para tomar a decisão de dar uma guinada e passar a reduzir produção.
A casa de análises londrina Capital Economics não acredita em um corte coordenado, enxerga um pequeno excedente na oferta e aposta em quedas mais acentuadas de preços em 2019, chegando ao fim do ano a US$ 60 o barril.
Apesar da turbulência no setor, a conferência de petróleo em Abu Dhabi teve números superlativos: foram 980 palestrantes, 161 sessões, 29 países e 2.200 companhias expositoras, das quais 15 petroleiras internacionais. Nos corredores circulavam autoridades e executivos de gigantes como Saudi Aramco, Mubadala, Shell, BP, Lukoil, CNPC, Eni e Total.
O CEO da Saudi Aramco afirmou a repórteres que a companhia, forte no upstream, quer balancear sua atuação crescendo globalmente no downstream. Para isso congelou seu IPO para se concentrar na compra de uma fatia bilionária na petroquímica Sabic. A empresa assinou uma parceria com a Abu Dhabi National Oil Co. (ADNOC) para explorar oportunidades em gás natural e GNL.
A estatal dos Emirados também fechou acordos em gás com Eni e Total. A estratégia do grupo é expandir sua atuação em refino e gás para garantir demanda para o seu petróleo. Está em busca parceiros globais para executar seu plano de expansão de US$ 45 bilhões no downstream.
A Petrobras ficou de fora da Adipec. A estatal não estava entre os expositores. O diretor executivo de Refino e Gás Natural, Jorge Celestino, seria um dos palestrantes, mas teve compromissos no Brasil e não enviou representantes.