Leilão do pré-sal é um claro sinal de que o país pode atrair mais investimentos, por Pedro Zalán

Coletiva de imprensa após a 5a rodada do pré-sal. Foto: Cortesia ANP
Coletiva de imprensa após a 5a rodada do pré-sal. Foto: Cortesia ANP

Não gosto de previsões. Não acredito em previsões, e tento evitar fazê-las. Entretanto, recentemente, fui instado a fazer uma previsão sobre o que aconteceria com o Bid 5 do Pré-Sal. E, sem perceber, acabei fazendo uma previsão; o qual, surpreendentemente, se concretizou. A surpresa não ficou por conta do sucesso financeiro absoluto do evento. Por isto, todos esperavam. A previsão que acabou acontecendo e , de certa maneira surpreendendo, foi que todos os blocos do Pré-Sal teriam concorrência e que seriam disputados palmo-a-palmo.

Cada um dos 3 blocos do Pré-Sal teve dois consórcios capitaneados por gigantes da indústria petrolífera mundial submetendo ofertas, envolvendo 10 das 12 companhias inscritas na licitação. Ora, só dois consórcios em cada bloco? Isto caracteriza uma forte concorrência? No ambiente de exploração de águas ultra-profundas, SIM! E muita…Afinal, 10 companhias diferentes estavam disputando a primazia de pagarem R$ 3,125 bilhões de bônus nos blocos de Saturno e Titã, cada, e R$ 500 milhões de bônus em Pau-Brasil; mais investimentos bilionários para descobrir e desenvolver possíveis descobertas. Poucas companhias no mundo brigariam para ter tais custos…

Na realidade, eu não fiz previsão nenhuma. Eu só expressei a minha vontade interna de que tal concorrência ocorresse, e esta vontade era baseada nas evidências geológicas óbvias e ululantes (parafraseando o diretor-geral da ANP, Décio Odone, que usou esta expressão várias vezes durante o evento) que estavam à disposição de qualquer geólogo para analisar. O pré-sal brasileiro é um sistema tão eficiente e tão rico, que quaisquer estruturas do porte de Saturno, Titã e Pau-Brasil não podem ser desprezadas pela indústria petrolífera mundial. A concorrência tinha que acontecer!

E ela aconteceu de maneira quase que cinematográfica, logo no primeiro bloco ofertado, Saturno, o melhor bloco da rodada. Os representantes da Shell e da ExxonMobil entraram no último segundo, juntos, passo-a-passo, para a entrega da proposta. Cada um ficou esperando a movimentação do outro até o último segundo, pois os envelopes a serem entregues, com propostas alternativas maiores e menores, dependiam da presença ou não de concorrentes. O consórcio Shell (50%)-Chevron (50%) acabou batendo o consórcio ExxonMobil (64%)-QPI(36%) ao apresentar uma parcela de óleo-lucro de 70,20% ante o valor de 42,49% do concorrente.

No segundo bloco ofertado, Titã, foi a vez do consórcio ExxonMobil (64%)-QPI(36%) dar o troco no consórcio liderado pela Shell (50%), desta vez com a Ecopetrol (50%). Mais uma vez, os representantes da Shell e da ExxonMobil entraram juntos, nos últimos segundos, para a apresentação de propostas. O valor ofertado pelo primeiro consórcio foi de 23,49% e bateu o valor de 11,65% apresentado pelo segundo, para a parcela de óleo-lucro.

O bloco Pau-Brasil já havia sido ofertado no Bid 3 do Pré-Sal e não recebeu nenhuma oferta. O temor pela presença de uma quantidade grande de CO2 em uma possível descoberta pairava sobre este bloco. Mas, o enorme tamanho da estrutura (possibilidade de campo gigante), suas fácies de reservatório extremamente favoráveis, e sua proximidade a grandes descobertas como Tupi e Júpiter foram mais fortes e ensejaram a apresentação de propostas por dois consórcios diferentes dos que até então haviam concorrido. E que concorrência…O consórcio liderado pela British Petroleum (50%) junto com a Ecopetrol (20%) e a CNOOC (30%) apresentou um valor de 63,79% de parcela de óleo-lucro, batendo por uma estreitíssima margem o valor de 62,40% apresentado pelo consórcio Total(operadora, 40%)-Petrobras(40%)-CNODC(20%).

Três operadoras diferentes liderarão a exploração destes gigantescos blocos de Pré-Sal. Sete companhias participarão destes investimentos e nas prováveis fases de desenvolvimento e de produção. Companhias de seis países diferentes acreditaram e investiram na indústria petrolífera do Brasil. Estados Unidos (2), Reino Unido, Holanda, Colômbia, China e Catar reforçaram sua confiança na geologia favorável, na grandeza do potencial petrolífero e na estabilidade jurídica e fiscal do Brasil. Isto é um claro sinal de que o país pode atrair mais investimentos estrangeiros, basta replicar o comportamento proativo, correto e competente da ANP, do MME, do IBP, do CNPE e de outras entidades envolvidas na indústria petrolífera nacional.

Houve ainda um quarto bloco ofertado e adquirido pelos valores mínimos estabelecidos. O bloco Sudoeste de Tartaruga Verde foi adquirido pela Petrobras (100%). Tratava-se de um bloco situado no polígono da Partilha de Produção, mas com estruturas do pós-sal (e não do Pré-Sal); em carbonatos albianos já produtores no campo adjacente de Tartaruga Verde e que só interessava à Petrobras adquirir para evitar futuras unitizações. Aliás, causou estranheza a tímida participação da Petrobras neste bid. Entretanto, olhando-se para o portfolio de blocos do Pré-Sal já adquiridos pela companhia nos certames anteriores e para a magnitude dos investimentos com a qual ela se defronta no desenvolvimento de suas descobertas no Pré-Sal, deduz-se que tal movimentação deve estar atrelada a uma estratégia bem pensada e executada pela atual direção da empresa.

Um ano de leilões. De setembro de 2017 a setembro deste ano, seis leilões de blocos exploratórios Brasil afora foram realizados com estrondoso sucesso. Quatro leilões de partilha da produção, dois grandes leilões de concessão. Fantástico ano para a indústria petrolífera do Brasil, e, principalmente, para o Brasil. Foi um fecho de ouro. Fecho? Talvez não….vou fazer uma previsão…aliás, previsão, não! Não gosto de previsões! Vou novamente expressar minha vontade interna…de que este bid não constitua um fecho…mas sim apenas uma etapa de um processo que se tornará contínuo, previsível e confiável pelos próximos muitos anos. E expresso também a minha esperança de que o licenciamento ambiental, único ítem a travar ainda o pleno desenvolvimento da indústria petrolífera nacional, se conscientize de que a maior ameaça ao meio ambiente é a POBREZA! A falta de emprego, a falta de investimentos, o desalento e o desespero de chefes de família.