Em primeiro lugar na corrida eleitoral ao governo do Amapá, João Capiberibe (PSB) é hoje o senador mais crítico à liberação das licenças que podem permitir a exploração de petróleo e gás natural na foz do Rio Amazonas.
Ex-governador do estado por dois mandatos entre 1995 e 2002, o senador vê com desconfiança os planos de contenção de acidentes das companhias interessadas em explorar a região e afirma que a preservação dessa área é vital para o estado, cuja principal atividade econômica é a pesca, que envolve cerca de cinco mil embarcações.
Em junho do ano passado o senador solicitou uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado para debater os riscos e benefícios que a atividade petroleira pode trazer para a região.
“O Amapá manda peixe para o Brasil todo, então estamos com um cuidado extremo para que a gente não troque uma riqueza por outra”, disse Capiberibe na ocasião.
“O bizarro é que se insiste ainda na exploração petroleira quando nós poderíamos estar produzindo energia de várias outras maneiras, como solar”, arrematou.
A solicitação foi aceita e a reunião, comandada pelo então presidente da Comissão de Meio Ambiente, seu colega e adversário na disputa pelo governo amapaense, Davi Alcolumbre (DEM), para quem a exploração de petróleo na região pode ser um vetor de desenvolvimento econômico importante para o estado desde que sejam respeitados critérios de “responsabilidade social e ambiental”.
Alcolumbre está em segundo lugar na corrida estadual, empatado com o atual governador Waldez Góes (PDT). Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, o socialista Capiberibe lidera a disputa com 32% da preferência dos eleitores. Waldez tem 27% e Alcolumbre, 25%, um empate técnico dentro da margem de erro da pesquisa de três pontos percentuais.
Em simulação de segundo turno Capiberibe ganharia de Waldez por 49% contra 37%. Na disputa contra Alcolumbre a pesquisa mostra um empate técnico com Capiberibe contando com 43% dos votos e Alcolumbre com 45%.
A pesquisa Ibope foi encomendada pela Rede Amazônica, afiliada da Rede Globo no estado, tem margem de erro de três pontos percentuais. A sondagem tem nível de confiança de 95% e foi registrada no TSE sob o número BR-03187/2018. O ibope ouviu 812 eleitores em todo o estado.
Apoiado por José Sarney, Waldez conta com uma coligação de nove partidos mas é líder em rejeição. Capiberibe está coligado apenas com o PT e se apoia na popularidade do ex-presidente Lula.Já Alcolumbre tem hoje a maior chapa na disputa ao Palácio do Setentrião com 10 partidos, mas sua maior aliança é com o Rede, que conta com o prefeito de Macapá, Clécio Luis, mas é comandado localmente pelo também senador Randolfe Rodrigues, coordenador da campanha à presidência de Marina Silva.
Marina, que foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula, é uma defensora inveterada dos processos de licenciamento ambiental tocados pelo Ibama e que seguram hoje os planos das companhias petroleiras para a prospecção na região.
Ao todo seis companhias buscam prospectar na região: Petrobras, Total, BP, QGEP, PetroRio e Ecopetrol. A australiana BHP desistiu da empreitada e devolveu seus blocos no começo do ano. A foz do Amazonas se estende por toda a costa do Amapá e pelo litoral norte do Pará. Desde os anos 70, a Petrobras já perfurou cerca de 90 poços na região. Nenhuma resultou em descoberta comercial.
Exploração de petróleo fora dos programas de governo
Mas enquanto os pedidos de perfuração aguardam liberação do órgão ambiental, o debate acerca do potencial da produção petrolífera para o estado não tem destaque nos programas dos candidatos. Dentre os três concorrentes, apenas Alcolumbre faz uma referência ao impacto potencial que o início das atividades de exploração pode produzir no Amapá.
Acreditando que a atividade será capaz de promover uma cadeia de produção no estado, sugere a criação de cursos de preparação de mão de obra no “para o futuro polo de petróleo e gás”.
A proposta do candidato é aproveitar a estrutura da Universidade do Estado do Amapá (UEPA) e criar parcerias com o Senai e Sesi para oferecer cursos de capacitação e preparação de mão de obra focados na demanda das atividades relacionadas à exploração e produção. Capiberibe e Waldez sequer mencionam o termo petróleo em seus programas de governo.
O atual governador, no entanto, já atuou para aproximar-se das companhias que buscam iniciar a exploração na região. Waldez realizou em junho de 2015 uma reunião com representantes da Total e da BP em que sacramentou o apoio do seu governo à exploração na Foz do Amazonas.
E se a licença não sair?
Na época as empresas previam que as primeiras sondas chegariam à costa do estado em 2017, e o então vice-presidente de relações institucionais da BP, Ivan Simões Filho, afirmou que cerca de 70% dos impostos gerados pela atividade de prospecção seriam arrecadados pelo governo estadual. O objetivo das companhias era usar a cidade de Oiapoque como centro de operações áreas para a exploração na região.
Mas ao menos a francesa Total desistiu de centrar no estado seus investimentos. A empresa com maior interesse na região, com cinco blocos exploratórios, escolheu Belém do Pará como base logística para sua campanha na foz do Amazonas. A companhia tenta há meses liberar no Ibama seus projetos de exploração sem sucesso.