Segundo o Banco Mundial (World Bank, 2018), Rússia, Iraque e o Irã são os três países que mais queimam gás (flaring), queimando aproximadamente 19,9, 11,8 e 17,7 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, respectivamente. Entretanto, os EUA não estão muito atrás, queimando 9,5 bilhões de metros cúbicos por ano.
Pior, com as atuais técnicas precisas de sensores infravermelhos embarcados em satélites, agora sabemos que as grandes fontes pontuais de flaring (i.e.: sistemas de produção que fazem flaring em grande escala) estão concentradas em 70 flares individuais, que representam 20% do total de flaring no mundo! Dos 70 pontos, 24 estão no Iraque, 17 no Irã, e 7 na Venezuela (JPT, 2018). Juntos, apenas estas 70 fontes pontuais queimam quase tanto gás natural quanto todo o Brasil produz.
Hoje, a redução de flaring nos EUA não é uma prioridade na administração Trump, e as limitações de despacho no Texas e em outros estados norte-americanos favorecem o aumento de flaring, à medida que a produção é mais e mais focada na produção de óleo, mesmo quando o gás associado precisa ser queimado.
A Rússia é notoriamente má gestora ambiental (Geography of Russia, 2018). Sua produção está a todo vapor, para poder se beneficiar, tanto quanto possível, das limitações de oferta dos demais produtores, e para maximizar as receitas de moeda forte que suas exportações de óleo trazem para o país. Naturalmente, o flaring não tem sido sua maior preocupação, e o país continua produzindo a qualquer custo.
O Iraque tem tantos problemas ambientais sérios (New Security Beat, 2018), que o flaringnao pode ser considerado uma preocupação significativa, portanto sua produção não é limitada por restrições ao flaring ou preocupações ambientais.
O Irã teve sua sobrevivência econômica ameaçada pelas sanções dos EUA, depois pela precariedade do alivio quando elas foram suspensas e pela possibilidade do retorno das mesmas, e agora pela iminente imposição de novas sanções. Sua preocupação em nível nacional é sobreviver às sanções e encontrar estratégias geopolíticas para continuar exportando informalmente sua produção a despeito das limitações impostas pelas sanções. Se esses objetivos envolvem grandes ineficiências na produção, transporte e venda de óleo, paciência. Portanto, reduzir o flaring no país é uma preocupação nula, e suas preocupações ambientais envolvem principalmente questões de segurança hídrica, não o flaring(Financial Tribune, 2018).
A Venezuela tem sido tão mal administrada como país, que não surpreende que sua produção de óleo e gás também ignora as melhores práticas da indústria, e até mesmo as práticas operacionais minimamente aceitáveis, muito menos quaisquer normas ambientais. Por experiência pessoal, lembro de uma consultoria que prestei, em que o objetivo era remediar uma área onde o lençol freático estava contaminado com óleo que vazava de uma refinaria próxima. Ao invés de tratar a situação como um caso de poluição, poderia ter sido tratado como um caso de produção de óleo, já que o local produzia mais óleo (mais de 50 bopd) na água contaminada do que muitos poços em produção comercial produzem em campos maduros! O flaring, portanto, tem sido durante muito tempo, uma questão ausente no pais, e à medida que a produção de petróleo despenca no país (Argus, 2018), ela será ainda mais insignificante.
Dessa forma, é pouco provável que o flaring no mundo será substancialmente reduzido no futuro próximo. Os EUA estão retrocedendo com relação a restrições ao flaring (Argus, 2017), e como os preços do gás estão tão baixos, o valor perdido com flaring é mínimo, especialmente quando permite que óleo mais valioso seja produzido. Os demais países vilões do flaring não têm preocupações com flaring, dadas suas péssimas condições econômicas e de produção.
Aliás, dada a escolha entre queimar o gás associado ou parar a produção de óleo, as companhias estão atualmente buscando queimar cada vez mais gás, independentemente do desperdício de recursos energéticos, à medida que elas tentam navegar as margens operacionais apertadas e a necessidade de produzir petróleo mesmo quando o gás associado não pode ser monetizado. Conceitualmente, esse desperdício, e numa escala tão enorme, é difícil de compreender, e mais ainda de aceitar.
Neste cenário, as preocupações ambientais têm pouca chance de gerarem alguma redução no flaring. Parece que o mundo está condenado a queimar, sem qualquer benefício econômico e com sérios prejuízos relativos à poluição atmosférica e impactos climáticos, 385 milhões de metros cúbicos de gás por dia, durante bastante tempo. Enquanto novas descobertas de 1 TCF de gás são celebradas por muitas companhias e países, o mundo queima 5 TCF com flaring, todo ano…
Referências
Argus. 2017. US suspends federal flaring restrictions until 2019. Online 07 dez 2017. Disponível em https://www.argusmedia.com/en/news/1586762-us-suspends-federal-flaring-restrictions-until-2019?page=1.
Argus. 2018. Venezuela’s shrinking crude output nears 1mn b/d. Online 12 jun 2018. Disponível em https://www.argusmedia.com/zh/news/1697240-venezuelas-shrinking-crude-output-nears-1mn-bd.
Financial Tribune. 2018. Iran’s Environmental Problems Discussed With ESCAP. Online 01 fev 2018. Disponível em https://financialtribune.com/articles/environment/81160/irans-environmental-problems-discussed-with-escap.
Geography of Russia. 2018. Environmental Degradation and Conservation. Online Disponível em https://geographyofrussia.com/environmental-degradation-and-conservation/.
JPT – Journal of Petroleum Technology. 2018 Oil Production Secrets Betrayed from Space. Online 04 set 2018. Disponível em https://www.spe.org/en/jpt/jpt-article-detail/?art=4573.
New Security Beat. 2018. A Toxic Legacy: Remediating Pollution in Iraq. Online 6 nov 2017. Disponível em https://www.newsecuritybeat.org/2017/11/toxic-legacy-remediating-pollution-iraq/.
World Bank. 2018. Global Gas Flaring Declines in 2017 – Global Gas Flaring Reduction Partnership (GGFR). Disponível em http://www.worldbank.org/en/programs/gasflaringreduction.