HOUSTON, TX — No que depender do novo diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, o plano da companhia para reduzir sua pegada de carbono nos próximos anos levará à diversificação do investimento em renováveis — além das eólicas offshore — e à busca de parcerias com outras empresas.
“Sem dúvida a gente tende a diversificar o portfólio de renováveis e não ficar apenas na eólica offshore”, disse Tolmasquim à agência epbr, em sua primeira entrevista após assumir a pasta, durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, no Texas (EUA).
“Temos aí tecnologias onshore, a questão do hidrogênio. O CCUS [sistema de captura e uso de carbono] também é forte candidata. Então a ideia é diversificar essas fontes na área de baixo carbono.”
Afirma que, sem deixar de ser uma empresa de petróleo, a Petrobras precisa recuperar “o tempo perdido” e reduzir as emissões dos seus produtos. “O grande desafio que temos é tornar os produtos da Petrobras mais verdes, dado que na descarbonização em si dos processos produtivos, estamos bem”.
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Prioridade para sociedades com a Petrobras
Segundo Maurício Tolmasquim, esses novos projetos devem ser desenvolvidos em parceria com outras empresas, para dividir investimento, risco e trocar conhecimento.
“A nossa ideia é fazer projetos prioritariamente em parceria com outras empresas”, explica. “A gente acha que fazer junto tem várias vantagens. A primeira é que você divide o capex [investimento]. Depois, compartilha conhecimento, reparte risco. Então, há uma série de vantagens em fazer isso.”
Tolmasquim ressaltou que a revisão do plano estratégico da Petrobras para o período de 2024-2028 ainda está em análise e vai ser concluído no fim deste ano. Mas adiantou à agência epbr as tendências e os caminhos que estão sendo discutidos pela companhia para a descarbonização de suas atividades.
Hidrogênio de baixo carbono a partir do gás natural
Entre as fontes que devem ser alvo da empresa, está o hidrogênio de baixo carbono, inclusive o hidrogênio azul, disse o executivo. Nessa rota, o produto é obtido a partir do gás natural, combinado com soluções para mitigação de emissões.
“Eu acho que há estrutura para implementar tanto o hidrogênio azul, aquele produzido com gás natural, quanto o hidrogênio verde. As duas vias estão sendo exploradas pela Petrobras. Hoje, o hidrogênio, verde ou azul, ainda não é comercialmente viável, mas a tendência é ficar”, diz.
Eletrificação e hidrogênio nas atividades industriais
O executivo reforça a tendência de eletrificação das atividades industriais da Petrobras. “No mundo, a eletrificação é um dos caminhos da descarbonização. Usar a eletricidade, substituindo combustíveis fósseis, produzida a partir de produtos e energias renováveis. Tudo que puder ser eletrificado será eletrificado. Isso é uma tendência também na Petrobras”, diz.
Atualmente, a companhia tem planos de contratação de duas plataformas (FPSO) de grande porte, totalmente eletrificadas para campos do pré-sal. No plano aprovado antes da mudança de governo, há US$ 3 bilhões no orçamento para as licitações das unidades Atapu 2 e Sépia 2, com operação prevista para depois de 2027.
No refino, um caminho é o hidrogênio verde, elemento da descarbonização de processos e novos produtos.
“É claro que há processos nos quais a eletricidade não consegue substituir o combustível fóssil. Nessas áreas, o hidrogênio verde passa a ser uma alternativa. No que diz respeito ao refino, temos tanto a possibilidade do uso do hidrogênio verde, mas também a possibilidade de biorrefino”, explica.
A Petrobras produz, atualmente, diesel obtido a partir do coprocessamento de óleo vegetal na refinaria do Paraná. Planeja, para o futuro, investir em novas plantas do tipo e unidades dedicadas. Sinalizou recentemente que esse pode ser um dos projetos da retomada de investimentos no antigo Comperj, hoje polo Gaslub, em Itaboraí (RJ).
Escopo 3: oferta de produtos verdes
Tolmasquim diz que a “Petrobras vai continuar sendo uma empresa de petróleo”. E, assim, precisa recuperar o tempo perdido para se posicionar em um mercado futuro que vai consumir menos óleo e será mais exigente com práticas climáticas.
“A demanda de petróleo a longo prazo tende a cair no mundo e, portanto, todas as empresas petrolíferas estão se preparando para um horizonte em que o mercado será menor”, diz.
“Hoje, as financiadoras de investimento na área de petróleo – ou em qualquer outra empresa – têm entre um dos seus critérios o quanto as empresas estão investindo em outras tecnologias de baixo carbono (…) O mesmo acontece com os acionistas, por exemplo, fundos de pensão internacionais”.
Nesse sentido, é preciso reduzir não apenas a intensidade de carbono da produção e refino, mas também dos produtos, o escopo 3.
“E, para isso, temos que entrar na geração de energias renováveis e aumentar a produção de biorrefino, de produtos do Diesel R”, diz. “O grande desafio que temos é tornar os produtos da Petrobras mais verdes, dado que na descarbonização em si dos processos produtivos, estamos bem”.
Nova diretoria de transição energética
Tolmasquim coordena as atividades de descarbonização, mudanças climáticas, novas tecnologias e sustentabilidade, além das atividades comerciais de gás natural. Assumiu oficialmente em 1º de maio, quando foi concluída a reestruturação da Petrobras.
No fim de março, Maurício Tolmasquim assumiu como gerente executivo de Estratégia da Petrobras, área responsável por elaborar os planos plurianuais de investimento e planejamento de longo prazo da companhia. Ele tem participado ativamente dos debates sobre transição energética.
Mestre em Engenharia de Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maurício Tolmasquim é professor titular da COPPE/UFRJ.
Foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal de planejamento vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), de 2004 a 2016, nos governos Lula e Dilma Rousseff. Também foi secretário executivo de Minas e Energia.
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