RIO – As perspectivas de crescimento do mercado de biometano têm movimentado investidores interessados em se posicionar no segmento.
O Brasil conta, hoje, com seis plantas de biometano autorizadas a operar e que produzem 195 mil m3/dia, na média do acumulado do ano (até maio) – a maior parte desse volume oriundo de aterros sanitários.
Outras onze unidades, contudo, estão em processo de autorização junto à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Elas somam uma capacidade instalada de 330 mil m3/dia.
- Para aprofundar: Biometano aposta na descarbonização como modelo de negócio
A seguir, a agência epbr apresenta um mapa dos projetos em operação no país e um resumo da movimentação de alguns dos principais agentes do setor:
Investidores mexem as peças
Dentre os mais novos agentes do mercado de biometano estão a Compass e a Energisa.
A Energisa comprou 83,33% do capital social total da Agric, que atua na compostagem de resíduos orgânicos industriais para produção de biofertilizante em Santa Catarina.
A operação envolve o pagamento de R$ 6,5 milhões, mais um aporte de capital de R$ 53,5 milhões para investimentos na melhoria do sistema de compostagem e num novo projeto de produção de biogás e biometano.
Já a Compass, comercializadora de gás do grupo Cosan, formou com a Orizon Meio Ambiente, da Orizon Valorização de Resíduos, uma joint venture para a construção de uma planta de biometano no aterro de Paulínia (SP). A unidade terá uma capacidade inicial para produzir 180 mil m3/dia, a partir de 2025, mas poderá alcançar até 300 mil m3/dia no futuro.
Recentemente, foi a vez também da GNLink, empresa do Grupo Lorinvest que atua em distribuição de gás natural liquefeito (GNL) e comprimido (GNC), e a comercializadora paulista Migratio anunciarem um acordo de cooperação para viabilizar projetos de produção de biometano até 2025.
Outro agente novo no mercado é a eB Capital, gestora de investimentos alternativos que tem como um de seus fundadores Pedro Parente (ex-Petrobras), e que anunciou uma sociedade com a Sebigas Cótica para desenvolver bioprodutos a partir do tratamento de resíduos agroindustriais em larga escala – dentre os quais biometano.
Ao todo, serão investidos R$ 600 milhões até 2025 no desenvolvimento do negócio – uma plataforma de biosoluções batizada de Bioo. A primeira usina, próxima ao Polo Petroquímico do Sul, em Triunfo (RS), vai fornecer o gás renovável para a Sulgás a partir do fim de 2024, em contrato de dez anos.
Gás Verde compra ENC
A maior produtora de biometano do país, a Gás Verde, do Grupo Urca Energia, comprou a empresa portuguesa ENC Energy (da GEF Capital) e vai incorporar ao seu portfólio oito térmicas a biogás. A operação é da ordem de R$ 600 milhões, incluindo os investimentos.
O plano da companhia é converter as usinas de geração de energia em plantas de produção de biometano – de olho na demanda industrial e de veículos pesados.
A empresa espera atingir uma produção de 470 mil m3/dia de biometano em 2025 e 580 mil m3/dia em 2026 – incluindo os atuais ativos da carteira da Gás Verde, em Seropédica, São Gonçalo e Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Atualmente, produz 130 mil m3/dia no aterro de Seropédica.
Com a aquisição da ENC Energy, a Gás Verde passará a atuar também em São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Orizon prevê ao menos dez unidades
Em 2022, a Orizon, controlada pela Inovatec Participações, criou a Bio-E — divisão de energia renovável que prevê ao menos dez plantas de produção de biometano e/ou energia elétrica.
O pontapé da empresa no mercado de biometano aconteceu em 2022, quando entrou em operação a térmica Paulínia Verde (15,7 MW), contratada no leilão emergencial de 2021. É uma joint venture entre a Mercurio Partners, Grupo Gera e Orizon que consome biometano produzido no aterro local.
A empresa formou uma joint venture com a Compass, agora, para o aproveitamento do biometano ainda não explorado no projeto termoelétrico em Paulínia.
A Orizon também está instalando uma usina de biometano em Jaboatão dos Guararapes (PE), para produção de 60 mil m3/dia, a serem entregues à distribuidora de gás canalizado pernambucana, a Copergás a partir de 2024.
Marquise Ambiental rumo a Manaus
A parceria entre a Marquise Ambiental e a Ecometano (MDC) quer replicar o modelo de negócios da GNR Fortaleza – primeira e única planta de biometano do Nordeste e pioneira na injeção do gás renovável na rede de gasodutos – no aterro operado pela Marquise em Manaus, no Amazonas.
Inicialmente, o biometano deve ser direcionado às indústrias instaladas na região. Mas há também a possibilidade de ofertar para outros segmentos, como o de transportes, deslocando o consumo de diesel, e o residencial.
Raízen põe o pé no biometano
A gigante do setor sucroalcooleiro prevê inaugurar em 2023 a sua primeira planta de biometano, anexa à usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP) — etanol de 2ª geração. Ao todo, a empresa investirá cerca de R$ 300 milhões no projeto, para atingir cerca de 70 mil m3/dia.
A companhia espera construir unidades de produção de biogás em todas as suas 35 usinas sucroalcooleiras, nos próximos dez anos, atingindo 3 milhões de m3/dia do combustível renovável. A ideia é viabilizar os projetos por meio da joint venture Raízen Geo Biogás S.A, parceria com a Geo Biogás & Tech.
Geo Biogás & Tech aposta em parcerias
A Geo Biogás & Tech, aliás, tem outras parcerias no segmento. Em 2022, a empresa anunciou uma joint venture com o Grupo Crivellaro, especializada em gerenciamento de resíduos industriais, para produção de biometano em São Paulo. Investirão R$ 70 milhões em uma nova planta para produção de biogás e biometano a partir do tratamento de resíduos orgânicos de indústrias de alimentos e de bens de consumo.
A usina está prevista para operar em 2024 e será construída no município de Elias Fausto, na Grande Campinas. A unidade terá capacidade para produção de 15 mil m3/dia de biometano e geração de 11 mil MWh de energia elétrica a partir do biogás.
A Geo também é parceira da UISA, na construção de uma planta em Nova Olímpia (MT). O projeto prevê uma produção de cerca de 10,2 milhões de m3/ano (ou 28 mil m3/dia) de biometano, a partir de resíduos líquidos e sólidos (vinhaça, torta de filtro e palha) do processamento de cana.
Também no setor sucroalcooleiro, a Geo Biogás & Tech desenvolve projetos com o Grupo Cocal.
Cocal prepara sua 2ª unidade
A Cocal inicia neste mês de julho a construção de sua segunda planta de biogás, na unidade de Paraguaçu Paulista (SP), no oeste do estado. A expectativa é iniciar as operações em abril de 2025.
Com investimento de R$ 216 milhões, a nova unidade será 100% destinada à conversão em biometano e terá capacidade de até 60 mil m3/dia durante a safra. O volume é 140% maior em relação à planta de Narandiba (SP).
O empreendimento é desenvolvido em parceria com a empresa de tecnologia Geo Biogás & Tech. Usando equipamentos nacionais, o biogás será gerado a partir de vinhaça e torta de filtro – resíduos da industrialização da cana-de-açúcar – e outras matérias-primas.
Vibra aposta na ZEG
A líder no mercado de distribuição de combustíveis comprou, em 2022, 50% da ZEG Biogás e Energia, do Grupo Capitale.
Pelos termos do acordo, a Vibra e demais sócios, na proporção de suas participações, assumiram compromisso de investimento de até R$ 412 milhões no negócio de biogás nos próximos anos, para execução de novos projetos.
A Vibra vê potencial de atingir uma produção de mais de 2 milhões de m3/dia em até cinco anos, com o novo negócio.
Entre os primeiros projetos em implementação estão a planta de biometano do Aterro Jambeiro, com capacidade de 30 mil m3/dia, e da Usina Aroeira, com capacidade inicial de 15 mil m3/dia.
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